Em 2014 me propus a criar uma luz especificamente para um espaço pequeno e intimista, literalmente um quarto. Não, não era um projeto residencial, se tratava de uma peça de teatro que iria realizar uma temporada num espaço alternativo de arte.
O texto ajudava bastante, pois tinha esse mesmo ar intimista, me remetendo a uma caverna.
O quarto, palco desse espetáculo tinha apenas uma tomada comum, com fiação que confesso preferi não avaliar em maiores detalhes, considerei eu deveria ser tão antiga como a casa, que estava ainda em processo de se tornar um espaço dedicado às artes.
A construção da luz e da “mesa de luz” foi feita usando 3 spots, fios, 1 sarrafo, arame cozido, 3 dimers e as 5 velas que fiz em casa reciclando copos de geleia. Custo: cerca de R$100,00.
O diretor, que antes tinha sido colega de curso (também alternativo), daqueles que você vê na aula, mas nunca fala diretamente, se tornou um amigo e parceiro de trabalho.
Dois anos mais tarde, como todo bom amigo, ele me convidou novamente para iluminar o seu espetáculo. Desta vez num local tão precário quanto o anterior em termos de estrutura, mas bem maior em dimensões. Conclusão: as 5 velas que “flutuavam” no teto não seriam suficientes.....
Fiz a visita técnica. E perante a confirmação, senti a necessidade de tomar uma cerveja. Não tomei. Os lampejos de luzes delicados que havia criado eram o meu xodó, e não estava disposta a abrir mão deles. Assim, comecei a buscar soluções.
Os leds tinham entrado no meu repertório e por tanto eram a melhor opção. Não estou falando de refletores ou lâmpadas, estou falando dos minúsculos diodos de 5 mm. Na verdade, de 100 unidades deles. Despertando o interesse do Jack e dos outros 2 gatos.
Montei 2 circuitos de 50 unidades cada, ligados em série, um por um, manualmente. Tudo calculado para funcionar sem fonte (equipamento responsável por transformar os 127 V da tomada comum nos 1,5 V adequado ao led).
Pausa: as lâmpadas que você compra nas lojas e supermercados são caras mais em função da fonte, que já vem integrada, do que propriamente pelo diodo emissor de luz (led).
Resolvi a questão eliminando a fonte e colocando matemática e física.
Sim, eu me diverti muito. Ver as fórmulas da escola saindo do papel e acendendo não tem preço.
O suporte para meus leds também foram adaptados. Afinal seria arame demais. E se antes eu precisava de um suporte rígido, agora as coisas haviam mudado. A reciclagem, sempre presente, proporcionou um uso diferente de algo comum: a rede de proteção, tipicamente colocadas em janelas e varandas nos apartamentos. E assim, a rede saiu da janela para formar um colchão de sustentação invisível para os pequenos pontinhos de luz.
Pouco depois, o espetáculo viajou para São Paulo. Fomos para um espaço ainda maior: um galpão. Desta vez com estrutura para iluminação semelhante a dos teatros. Levei meus leds.
Meu xodó foi descrito como “gotas de sangue pairando no ar”.
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